DA FONTE E DOS BANHOS DE SANTA EUFÉMIA EM SINTRA - III


CAPÍTULO III - DAS INSCRIÇÕES LAPIDARES DA FONTE DE SANTA EUFÉMIA
Autoria: Degraconis - Pesquisa: Sintra Subterrânea | (Ver capítulos anteriores)
05.08.2012

Parece-nos pois, chegada a hora de dar notícias quanto às inscrições que outrora se encontravam na fonte de Santa Eufémia. Podemos assinalar, terem existido, de que haja memória documental, quatro lápides e uma cruz sobranceira à fonte (N1) e a duas dessas lápides. As restantes duas, segundo informa Félix Alves, estariam no interior do cubículo dos banhos que se situa à direita da fonte (N2).

Fig. 1 – A Fonte e a localização das lápides. Gravura inserida na obra “Sintra do Pretérito”
O trabalho de montagem é nosso.

São escassos os documentos de que nos podemos socorrer para esta tarefa, mas serão suficientes para estabelecer uma cronologia quanto à sua colocação no local, visto ter havido o cuidado da parte dos gravadores (ou encomendadores) em inscrever-lhes as respectivas datas.

Assim, excelentemente datado mas de duvidosa origem, visto tratar-se de uma simples inscrição piedosa sem alusão, quer à fonte, quer aos banhos, temos a lápide (fig. 2) que se encontraria dentro do compartimento dos banhos e que apresenta a data de 1723, o que a torna a mais antiga de entre as quatro lápides apontadas.

Fig. 2 – Lápide que se encontrava 
na fonte mas sem alusões à mesma

Logo abaixo da cruz que subjuga todo o espaço, sinónimo da sacralização do local, surge o que podemos considerar de documento da fundação (fig. 3), o qual apresenta-se como uma peça fundamental para a historiografia do local: Trata-se de uma lápide que dá indicação do ordenante que mandou fazer “esta obra” - decerto a fonte e a casa dos banhos que conhecemos da gravura do José Alfredo de 1957-, e também, a respectiva data de louvável edificação ou reedificação (N3)

Fig. 3 – Foto da lápide original e gravura 
inserida na obra “Sintra do Pretérito”

Não se pense no entanto que este documento pétreo demarca cronologicamente o nascimento da fonte e eventualmente dos banhos (N4), mas sim a preocupação em emoldurar em dignidade um espaço que já à muito devia estar enraizado na devoção do povo, até porque a lápide anterior evocada é anterior a esta em 14 anos, não obstante poder ser oriunda de local diverso. Quanto ao Capitão Franco Lopes de Azevedo não conseguimos por agora apurar notícias.

Não haviam de passar pouco mais de cem anos e necessita a mina de concerto, tendo sido o seu promotor o Conde de Carvalhais, conforme atesta a lápide (fig. 4) que estaria colocada imediatamente abaixo da lápide da (re)fundação e imediatamente junto ao arco cimeiro da bica da fonte.

Fig. 4 - Gravura inserida na obra “Sintra do Pretérito”

Félix Alves em nota de rodapé não se perde em divagações quanto ao Conde, mas informa-nos o nome completo, data de nascimento e morte, a partir do qual procurámos indagar de que forma poderia-se relacionar com Sintra, visto a localidade de Carvalhais, do qual foi o primeiro conde, ficar distante. 

Com efeito, consultámos o livro “Portugal; diccionario historico, chorographico, heraldico, biographico, bibliographico, numismatico e artístico” de João Manuel Esteves Pereira, obra que não nos costuma desiludir, e entre os vários aspectos da vida do Conde descritos, chamou-nos atenção o facto de ter casado em 1797 com D. Margarida Domingas José de Mello, a primeira filha dos Marqueses de Sabugosa (N5). Deixaremos para mais qualificados e laboriosos nestas matérias descobrir o que o levou a patrocinar o concerto da mina em 1845.

A quarta lápide (fig. 5), datada mas carenciada de qualquer alusão, não deixa perceber de que forma se relaciona com a fonte, ou se sempre esteve neste local. No entanto, tanto esta lápide como a do devoto piedoso que apela à salvação por meio da oração – as duas no interior da casa dos banhos - apesar de não referirem a fonte nem os banhos, a não terem estado desde sempre no local onde se encontravam, decerto foram recolhidas nas proximidades. Parece esta lápide, do ano de 1807, querer fixar a data de alguma construção ou reconstrução.

Fig. 5 - Gravura inserida na obra “Sintra do Pretérito”

Antes de Félix Alves dar notícias das inscrições já havia António Cunha as publicado no “Cintra Pinturesca” trinta anos antes, no entanto, sem ter tido o mesmo cuidado, quer na transcrição das mesmas, quer na cópia da forma como o texto estaria disposto sobre as lápides. Esta nossa dedução resulta da consulta do “Inscrições Lapidares Portuguesas do Concelho de Sintra” (fig. 6) coligidas pelo epigrafista J.M. Cordeiro de Sousa e publicado no ano de 1859. Se havíamos tido dúvidas quanto à disposição do texto, visto não coincidirem nas duas primeiras obras citadas – no Félix e no A.C - Cordeiro de Sousa, conhecido o seu rigor na cópia das inscrições e, que, por regra mantém a ortografia e a pontuação original, dissipa por completo qualquer dúvida quanto a isso. 

 Fig. 6

Antes de terminar este capítulo não queremos deixar de dizer que surpreendentemente várias têm sido as surpresas que se têm dado ao longo desta nossa pesquisa. Exemplo disso é a foto da lápide original que apresentámos (fig. 3), que por ironia do destino, ou não, conseguimos localizar a determinada altura mas da qual não estamos autorizados a dar o paradeiro nem mais informações, garantindo no entanto que havendo intenção de restaurar a Fonte de Santa Eufémia, poderá esta voltar ao seu local original. Outra enriquecedora surpresa foi o aparecimento de uma foto (fig. 7) onde ainda é possível ver as lápides no local antes da derrocada que se verificou na década de setenta (fig. 8). 

 
Fig. 7 (esq.) – Foto anterior à década de setenta onde se verifica ainda a existência 
das lápides exteriores. Não se consegue perceber no entanto a existência da cruz ou não.
Fig. 8 (dir.) – Foto cedida por Joel Marteleira da década de setenta após a derrocada, e onde
 curiosamente parece verificar-se ter sido deslocado o monolítico arredondado para o local onde hoje o conhecemos.

Capítulos anteriores
CAP. I - DAS DESCRIÇÕES ANTIGAS QUANTO À LOCALIZAÇÃO
CAP. II - A FONTE NA CARTOGRAFIA 

Próximos capítulos
CAP. IV - EM TORNO DA SUA ANTIGUIDADE
 CAP. V - DAS ÁGUAS MIRACULOSAS E DA SUA MINA


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1 comentário:

  1. Qual a data de publicação deste artigo? Não há referência às datas.

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